PROJETO

O registro fotográfico fala do quanto uma cidade muda. Do momento em que o piso térreo descobre pernas de concreto e aço e se atreve a ambicionar as nuvens. Então era essa a minha cidade, jovem, bela, adolescente! – você exclama, maravilhado, diante do que hoje está exposto a seus olhos no espaço luminoso das telas. Era essa a sua cidade, enquadrada em branco e preto, ou petrificada nos tons claros de uma aquarela sob o sol incandescente.

Veja essas imagens assim, como se visse um corpo humano, e aceite o que se revela: as cidades crescem. Têm seu início ali, ao rés do chão. Engatinham na terra, espraiam-se nas areias móveis de um dado território. Estendem pernas e braços inquietos, ansiando deixar seu berço, espalham-se por vastos espaços horizontais, tomam imprevisíveis direções, constroem suas histórias e assumem, meio de repente, inesperadas dimensões.

Da mesma forma que se dá com as cidades, a tecnologia fala e muda o modo de se ver o mundo. As plataformas tecnológicas abrem janelas para horizontes acima e além do nosso pensamento, no quase milagre de transformar em digital o que era analógico, ancorando o que era provisório na memória indelével das máquinas.

A guarda da memória é o meio e o fim desse projeto, que ata laços virtuais de afeto entre as fotos antigas e a cidade na qual vivemos hoje, que retrata para as gerações de netos, filhos e pais o rosto de Fortaleza, meio século atrás. Os negativos de fotografias coloridas ou em preto e branco ganham vida digitalizados em originais analógicos, documentos visuais históricos preservando imagens que, desse modo, se farão eternas.

                                                                                                                                                                                                                  Angela Barros Leal

 

INFORMAÇÕES SOBRE O PROJETO

A proposta do projeto CIDADE E MEMÓRIA – ACERVOS E COLEÇÕES FOTOGRÁFICAS é realizar uma ampla pesquisa sobre a iconografia de Fortaleza capturada em originais analógicos no período entre as décadas de 1970 e 2000.

Os primeiros acervos a serem consultados pertencem a Gentil Barreira e Celso Oliveira. Reconhecidos por décadas de atuação, esses profissionais mantêm em seus arquivos milhares de documentos visuais da cidade de Fortaleza, além de inúmeros registros da paisagem e da cultura do estado do Ceará. Dentre os originais nos mais diversos formatos, sejam cromos, negativos cor ou P&B, duzentas imagens foram selecionadas, digitalizadas e inseridas neste ambiente virtual, para que o público possa ter acesso direto a este precioso recorte imagético de nossa cidade.

Projeto apoiado pelo VII Edital das Artes de Fortaleza – SECULTFOR – Lei nº 10.432/2015 e em parceria com a Imagem Brasil Galeria.

Para mais informações sobre o acervo de imagens: Imagem Brasil Galeria – (85) 3261-0525/ (85) 99930-0173

AUTORES

Celso Oliveira

Celso de Oliveira Silva começou a fotografar em 1975, enquanto trabalhava como assistente de laboratório no Estúdio Fotografismo e Artes, no Rio de Janeiro. Em seguida, transfere-se para São Paulo e inicia a carreira de fotojornalista, colaborando em diversos jornais e revistas como Veja, Isto É, Visão, Tênis Esporte, O Globo e Meio Dia. Em 1980, muda-se para Fortaleza, onde integra a equipe coordenada por Chico Albuquerque (1917-2000) no jornal O Povo e participa do grupo de fotógrafos Dependentes da Luz. Na capital cearense, junto com o fotógrafo Tiago Santana (1966), em 1994, cria a agência e editora Tempo D’Imagem, com o objetivo de desenvolver ensaios documentais e livros de fotografia, responsável por grandes publicações na área de fotografia, algumas de sua própria autoria: Mar de Luz, A Corte Vai Passar, O Olhar de Cada Um, Brasil Bom de Bola, Visões do Imaginário e Quem Somos Nós. Participa de diversas exposições, tanto no Brasil quanto no exterior, entre as quais se destaca o 5º Colóquio Latino-Americano de Fotografia.

No fim da década de 1990, com Santana, Antonio Augusto Fontes (1948), Ed Viggiani (1958) e Elza Lima (1952), desenvolve o projeto Brasil sem Fronteiras, documentando as cidades fronteiriças do oeste do país. O trabalho dá origem a um livro homônimo, lançado em 2001. Nos mais de quarenta anos de profissão, Celso Oliveira participou de diversas exposições individuais e coletivas, suas fotos ilustram páginas de publicações no Brasil e no exterior e sua obra está presente em acervos de instituições culturais brasileiras e de diversos países. Vive em Fortaleza e seu trabalho com reconhecimento nacional e internacional revela, além da paixão pela fotografia, um olhar sensível sobre o cotidiano e a cultura brasileira.

Gentil Barreira

Autodidata, Gentil Barreira iniciou as primeiras experiências com fotografia aos 11 anos, montando um pequeno laboratório para revelar seus filmes. Estudou Arquitetura e Urbanismo em São Paulo, mas antes de concluir resolveu voltar a Fortaleza, onde vive até hoje. Ingressou e frequentou por dois anos o curso de Comunicação na UFC, período em que profissionalizou-se como fotógrafo. A influência dos experimentos da Arquitetura e os conceitos e ideias da Comunicação marcaram de forma decisiva seu trabalho e as pesquisas que desenvolve com a fotografia. Para atender aos segmentos de publicidade, moda, retratos e arquitetura, montou um estúdio e vem atuando nesse mercado até o momento.

Desenvolve paralelamente, trabalho autoral com foco na pesquisa documental e em estudos de luz e movimento. Realizou exposições individuais e participou de importantes coletivas, no Brasil e no exterior. Sua obra, diversas vezes premiada, está presente em acervos de instituições culturais e representada em livros, catálogos, revistas e sites.